03/05/2009

Dickie Cross, 22 de dezembro de 1943.

Peter Cole, Waimea.


Como havia dito na publicação anterior, a Baía de Waimea ficou sem ser surfada por mais de 10 anos após o trágico episódio de Woody Brown e um jovem garoto de apenas de 17 anos, chamado de Dickie Cross.

No começo da década de 40 o North Shore era apenas uma linha de praias virgens recém descoberta, onde somente poucas das inúmeras praias já haviam sido desbravadas. Uma dessas praias era Sunset Beach, cuja praia Woody Brown só havia surfado apenas meia dúzia de vezes. No dia de 22 de dezembro de 1943, acompanhado por um jovem garoto chamado Dickie Cross, rumaram para a costa norte com intuito de surfar em Sunset. Uma das armadilhas que as ilhas hawaiianas podem oferecer aos surfistas mesmo os experientes, são os swells relâmpagos que podem costear a costa em um suspiro. Como Woody só havia tido lá apenas algumas vezes, não tinha o conhecimento que o local estava pronto para receber um dos swells que as ilhas não haviam sofrido há anos.

Ao entrar no canal de Sunset, os dois se depararam com um swell crescente de ondas subindo para os 20 pés. Com a inexitosa tentativa de sair do mar pelo canal devido a forte corrente que estavam segurando-os no local e com as grandes ondas que quebravam no horizonte varrendo toda a costa norte, os dois tiveram a idéia de remar para a Baía de Waimea. Woody completa, “Você tem que tomar cuidado com esses canais. Quando a onda fica grande, a correnteza te leva para auto mar. Com isso, concluímos que a única coisa a fazer era esperar a série passar – o intervalo entre as séries era de cada 10 minutos – e remar os 6 km para a Baía de Waimea, pois quando a gente estava vendo as praias anteriormente, a praia estava com um bom canal e apenas quebrando 20 pés limpos no canto direito da praia. Com isso nos sentimos mais calmos com a situação: grande praia, ótimo canal, tranqüilo quebra coco”.

Os dois após escaparem das grandes séries, chegando a Waimea, viram que o cenário desejado desta não estava conforme previsto, pois o swell estava muito maior e constante. George Downing jurava que neste dia as ondas estavam passando dos 40 pés fáceis.

Woody concorda, “Yeah, eu concordo, fácil. Na nossa remada a Waimea, após chegar, começamos a remar para a costa. Esse rapaz que estava comigo era apenas um jovem corajoso. Era daqueles: toda coragem e nada de cabeça. Apenas, ‘Humm’.”

Com a perícia do local feita, Woody percebe que eles estavam na linha da arrebentação e alerta ao jovem que deviam sair do local para o lado central da praia. Ignorando Woody, Dickie continua a remar no lado direito da praia sem nenhuma idéia da situação onde se encontrava. Com Dickie remando no lado direito, Woody o acompanha remando paralelamente a ele ao lado central da praia.

O que os dois temiam aconteceu, em outras palavras, uma série no horizonte vinha em sua direção. Woody, “Rapaz, era como uma escada até onde você conseguia ver, ficando cada vez mais íngreme. Você podia ter o maior trabalho remando, mas você ainda estaria subindo na face dela.”

“Eu consegui atravessá-la, sentei na prancha e procurei o meu companheiro, porque ele estava mais no raso do que eu. Eu apenas não conseguia ver ele! E então, eu o vi subindo no topo da última onda, e estava tão inclinada. Ele e a prancha simplesmente foram jogados para traz da onda. Depois disso ele remou em minha direção e eu perguntei, ‘Dickie, você acha que conseguiria ter sobrevivido dessa onda? ’.”

Ele falou, “Claro que não!”.

Concordaram que as ondas daquelas séries estavam nos incríveis 60 pés. Voltando a remar para a costa, Dickie volta a se afastar de seu companheiro, mesmo após terem concordado de atravessar no meio da baía com o intuito de estudarem a série para verem como iriam se comportar em suas decisões.

Woody, “Ele apenas não prestava atenção alguma. Parecia que era hora dele, como alguma coisa o chamava, sabe? Considere seu comportamento. Ele chegava cada vez mais perto do pico das ondas intermediárias, cada vez mais sobre as ondas. Apesar de ter sido quase pego pelas ondas e ter concordado que não sobreviveria com a queda destas, ainda continuava me ignorando. Parecia que era a sua hora... eu não sei.”

As ondas intermediárias estavam quebrando 20 pés constantemente, e as séries vinham aos incríveis 60 pés em intervalos de tempo de 10 minutos cada.

Finalmente Dickie se vira e rema para uma onda onde consegue dropá-la, mas perde sua prancha logo em seguida. Os dois se viram na situação de “dois homens, uma prancha”. Começam a remar em direção um do outro, mas infelizmente Dickie aponta para o horizonte aonde vinham aquelas montanhas d’águas de 60 pés de altura vindo em sua direção. Woody foi obrigado a ceder e rema em direção delas para não ter o trabalho de perder a sua e única prancha do local.

Woody exclama, “Minha única chance era salvar a única prancha que nós tínhamos. Eu remei em direção das ondas, passei pela primeira, e começou a vir cada vez mais, ficando maiores e íngremes, cada vez mais crespas em seus topos. Bom, eu vi que não iria conseguir passar de todas. Então veio uma em minha direção, eu arremessei a prancha e mergulhei de cabeça para o fundo. Essa é a única chance em ondas grandes: mergulhar para o fundo”.

“Eu podia mergulhar 30 pés naquele tempo e me safar, e rapaz, eu sentia ser sugado para cima e jogado para baixo de novo. Eu conseguia ver a espuma borbulhando atrás e embaixo de mim. Eu a 30 pés submerso a espuma me alcançava! Você não tinha condição de sobreviver assim”.

Logo em seguida ao emergir, não localizando com êxito o seu companheiro Woody retirando seu calção para aliviar o peso, toma a última decisão de remar ao canal central onde as ondas da série poderiam estar menores e menos fortes. Já no canal, viu que sua sorte estava melhorando quando viu uma série monstruosa quebrando 500 metros de distância de sua localização.

Pensou, “Eu consegui passar desta vivo, talvez eu tenha alguma chance, pois as ondas me jogavam cada vez mais perto da praia, certo? Cada vez eu mergulhava um pouco menos e eu vi que eu estava me aproximando da areia. Finalmente chegando a ela, cansado e sem nenhuma força, rastejei-me com as mãos e joelhos onde em minha direção veio um grupo de homens do exército me socorrer. A primeira coisa que eu falei foi, ‘Cadê o meu companheiro?’ Eles falaram, ‘Oh, após que ele tentou pegar a primeira onda grande, ele foi pego por ela, conseqüentemente não o avistamos mais’. Eu percebi que esse garoto tinha tanta coragem, que ele tentou pegar de peito (bodysurf) a onda.”



Bibliografia: Legendary Surfers.
Comentários
3 Comentários

3 comentários:

Felipe Siebert disse...

que relato... coragem nunca faltou para esses caras...

Luiana disse...

nossa! altas historia...

Kadu disse...

Lucas, descobri hoje teu blog.Grata surpresa,parabéns! Estava faltando isso na blogosfera, pelo menos em português. Como tu, sou um apaixonado pela história do nosso surf, isso me levou a criar Wavetoon. Lá, escrevi uma história baseada nesse relato do Woody Brown sobre a morte de Dickie Cross. Confere; http://wavetoon.blogspot.com/search/label/12%20surf%20hist%C3%B3ria%20-%20A%20%C3%9ALTIMA%20ONDA

grande abraço
George Martins