25/05/2009

Surf Moderno: parte III

No término da 2º Guerra Mundial, a praia de Waikiki foi substituída pela de Malibu. O bonito contraste das ondas que essa praia possuía se tornou padrão, e os veteranos da guerra que chegavam a sua terra natal se lançavam a esse temperado canto da costa, começando a desenvolver certas características particulares com o esporte – relaxamento e vida mansa, mas também insolência e eliticismo – isso mais tarde se estruturou em uma geração mais nova e rebelde.


Um pequeno grupo de shapers vindo da área de Los Angeles, incluindo Bob Simmons, Joe Quigg, Matt Kivlin, e Dale Velzy usavam a praia de Malibu como centro de teste remontando as pesadas e sem quilhas pranchas maciças. Nem as pranchas Hotcurl e nem as quilhas de Tom Blake se tornaram famosas no continente na época. A madeira redwood foi substituída pela de Balsa, se tornando esta (Balsa) como a matéria-prima principal das pranchas, decaindo o peso para metade, não passando dos 13 kg, a quilha entrou em cena, e a prancha foi totalmente revestida por uma camada protetora de fibra de vidro e resina. O bico começou a se tornar mais acentuado para evitar o indesejável “embicamento”, e as extremidades começaram a ficar mais arredondadas para uma manobrabilidade melhor. Em suas novas “Malibu ships”, os surfistas do final da década de 40 se tornaram cada vez mais hábeis para realização de viradas e cutbacks, e logo encontrando o caminho para o bico.

Em 1956, um grupo californiano de salva-vidas/surfistas, incluindo Greg Noll, Mike Bright, Tommy Zahn, Bob Burnside e Bob Moore, introduziu as “chips” nas praias australianas, onde as pranchas ocas ainda estavam em vigor. Surfistas australianos se converteram a esta evolução da noite para o dia, com isto também se dirigiram para o extremo da aliança entre os salva-vidas, assim que foram excluídas as pranchas como instrumento de ajuda para os salvamentos. Greg Noll argumenta sobre esse dia, “Eu e a equipe trouxemos as nossas pranchas para Torquay. Isso foi depois da corrida de remada, eu e Mike Bright pegamos as nossas pranchas e entramos no mar. Eu me lembro pegar uma onda, ter feito uma virada e um cutback, e então eu olhei em direção da areia e vi um público grande correndo em direção à praia. Eu pensei que alguém tinha tido um ataque no coração”.


Greg Noll saindo na capa de um jornal local de Sindei.

Três lojas de surf, entretanto, haviam sido abertas na Califórnia – Hobie Surfboards e Velzy Surfboards no sul californiano, enquando Jack O’Neil Surf Shop em San Francisco – e as primeiras roupas de borracha estavam no comércio. As matérias-prima das pranchas foram substituídas para poliuretano em 1956, fazendo com que no término da década as madeiras Balsas se tornassem obsoletas.

Mas nenhuma dessas inovações poderia prever o grande sucesso de Gidget, um romance escrito por Frederick Kohner em 1957, se baseando em sua filha em sua introdução ao surf e velho “amor de verão” na praia de Malibu. Alguns meses depois do lançamento do livro, a revista Life seguiu com “Gidget Makes the Grade”, com uma foto cuja capa era Kathy “Gidget” Kohner deslizando sobre as ondas e se divertindo na praia, com os surfistas em vez de homens com índole de esportistas, eram homens com cabelos descoloridos de água oxigenada, menosprezando a idéia de um romance “surfístico”.
“Se eu tivesse algum trocado para comprar o livro, eu compraria uma cerveja”, diz Fred.


A versão Hollywoodiana de Gidget fez mais sucesso ainda, lançado em 1959, fazendo com que os “farofeiros” que eram de longe fossem direto para a costa de Califórnia. A população de surfistas explodiu de 5.000 para 3 milhões de um ano para outro. Com o grande número de surfistas, a preocupação das autoridades com os banhistas aumentou, em Sidnei os surfistas eram obrigados a terem um adesivo de registro para suas pranchas. O conselho municipal de Newport Beach de Califórnia votou em que taxassem os surfistas em três dólares anuais. Quase todas as medidas punitivas foram suspensas antes do final da década, enquanto permaneceram como em leis de segurança local.


Pelo menos, três revistas de surf foram fundadas em 1960 no sul californiano, com a Surfer emergindo na liderança. Professor escolar Bud Browne de Santa Monica, inventado o gênero dos filmes de surf na metade da década de 50, brevemente se juntou com outros produtores de filmes, tanto como big rider quanto um famoso shaper, Greg Noll, John Severson (fundador da Surfer) e Bruce Brown. A primeira geração de surfistas famosos da mídia vinha da Califórnia, incluindo o original hotdogger Dewey Weber, o articulado e poderoso Phil Edwards, e o subversivo Mickey Dora. Os hawaiianos George Downing e Wally Froiseth juntamente com os californianos Buzzy Trent e Walter Hoffman, já tinham pegado o costume em ondas grandes de 25 pés em Makaha passando a surfar no North Shore da ilha de Oahu. O surf em ondas grandes foi visto como um patamar de alto risco diferenciado do surf ordinário, sendo Noll um dos grandes especialistas no assunto, cujo homem testava seu limite em Waimea e Banzai Pipeline usando sua preta-e-branca bermuda de presidiário, fazendo com que fosse o big rider mais famoso da década. Noll e Mickey Dora foram os principais surfistas protagonistas no filme Ride The Wild Surf de 1964, produzido pela Columbia Pictures.


Mickey Dora e Greg Noll em Waimea.


Dúzias de regionais, nacionais, e até mesmo internacionais organizações de campeonatos foram fundadas no começo e metade da década de 60, incluindo o United States Surfing Association, o Australian Surfriders Association e o International Surfing Federation, o Peru Internotional, o United States Surfing Championships, o Australian National Titles e Duke Kahanamoku Invitational. Os resultados destes campeonatos resultaram um alcance global no surf, quando o australiano Midget Farrelly ganhou a estréia do campeonato World Championships em 1964, enquanto o Felipe Pomar de Peru pegou o lugar no ano seguinte.

A banda Beach Boys, Jan e Dean, e os superficiais filmes de Hollywood como Beach Party e Beach Blanket Bingo ajudaram a aumentar a mania na década de 60. Hang Ten, Kanvas de Katin, Sand Comber, e Birdwell Beach Britches eram os fabricantes fundadores dos surf wears.

O esporte por vezes, parecia ser inundado em marketing, a concorrência dos resultados de campeonatos, modelos de pranchas de surf autografadas, organizações de surf, e talvez tendo como contraste o filme de 1964 de Bruce Brown, Endless Summer, um par de surfistas vivendo uma vida tranqüila que deixando tudo para trás à procura da onda perfeita, atingiram em tal profundidade o sentimento entre ambos os surfistas e não-surfistas. O filme de Bruce refletia os sentimentos de alegria e comemoração. Saindo do sistema já vendido e corrompido que a propaganda demonstrava.

Bibliografia: Greg Noll - The Art of the Surfboard & The Encyclopedia of Surfing.

17/05/2009

Surf Moderno: parte II

O surf reviveu e refloresceu na abertura do século XX, quando as autoridades religiosas nas ilhas foram substituídas pelos interesses do turismo e agricultura. A ampla vaga nos campos de Waikiki foi sinônimo do recém vigorado esporte. Duke Kahanamoku, George Freeth e Alexander Hume Ford eram as personalidades que lideravam na época. Mais tarde, o inglês-havaiano Freeth foi creditado como o primeiro dos que reviveram a arte de surfar em pé (desconsiderando outros que ainda permaneciam a surfar deitados ou ajoelhados) e também considerado um dos precursores a acompanhar a parede da onda em vez de ir reto em direção à costa.


George Freeth

O energético Ford nasceu na Carolina do Sul, adotou imediatamente o surf após sua vinda ao Hawaii em 1907 tornando-se também um grande promotor do esporte, e no ano seguinte fundou o Outrigger Canoe Club em Waikiki – primeira organização de surf. Ford também promoveu a Freeth uma visita ao americano escritor Jack London, que cujo publicou um artigo sobre o esporte em 1907 na Woman’s Home Companion, dando aos americanos a primeira descrição detalhada. London escreveu, “um esporte de realezas para os reis naturais do planeta.” Freeth naquele tempo havia navegado para o continente introduzindo o esporte no sul californiano com uma série de demonstrações em lugares como: Los Angeles e Orange Country (1907 e 1908), primeiramente em Venice, seguidamente em Redondo, Huntington, e outras localizações.

Por décadas, acreditaram que Freeth foi o primeiro a surfar no continente. Isso foi mais tarde revelado que os irmãos Jonah, David e Edward Kawananakoa, enquanto lecionavam em um internato em Santa Cruz em 1885, foram surfar na foz de San Lorenzo usando pranchas de madeira redwood de seus próprios designes. Locais podiam ter acompanhado, mas não se popularizou, devidamente pela água muito fria do norte da Califórnia.

O fomento de Ford para com o novo esporte teve continuação em seu artigo de 1909 em Collier’s, onde ele bota em pauta que junto com os entusiastas do esporte em Waikiki, também era incluído no meio disso tudo os “Juízes da Suprema Corte do Hawaii, suas mulheres e crianças, ex-governadores e suas famílias, entre outros como grandes empresários”. Já nesse tempo, o adolescente Duke Kahanamoku era considerado um dos melhores surfistas de Waikiki, ficando conhecido também como um nadador medalha de ouro nas Olimpíadas de 1912. Enquanto ele viaja para e da Europa, surfou com Freeth na Califórnia, introduzindo o esporte também na costa Leste americana, em Atlantic City, e Nova Jersey. No final de 1914 e começo do ano seguinte, fez várias demonstrações na Austrália e Nova Zelândia.

Surfistas daquele tempo geralmente usavam pranchas de madeira redwood medindo 10 pés de comprimento e pesando mais de 30 kg, e o estilo sobre os pesados equipamentos era: uma posição ereta, costas inclinadas levemente para traz, com a cabeça e queixo acentuados. A inclinação era parte dos repertórios dos grandes surfistas avançados, mas a falta de quilha era lentamente coaxial para qualquer mudança de direção, ir reto para fora da onda era comum, e surfistas freqüentemente demonstravam seus comandos pelo simples ato de posicionar os braços curvando e flexionando-os.

A praia de Waikiki foi se tornando um ponto internacional de férias para os famosos e bem de vida, a imagem do surf foi em grande parte definido por fotógrafos de paisagens exóticas, homens e mulheres radiantes correndo em direção da costa com Diamond Head ao fundo. Amélia Earhart, Babe Ruth, e Prince Albert foram dentre as celebridades que se levaram ao surf à Waikiki, também o esporte foi brevemente exposto nos filmes de Hollywood, filmes como Bird Of Paradise e Waikiki Wedding. Um grupo de profissionais garotos de praia – Beach Boys – trabalhavam como guias turísticos ao longo das praias de Waikiki, gastando seus tempos de folgas surfando, compondo músicas, “contando histórias”, e ajudavam também através do surf uma conduta relaxante. Em 1919 George Freeth falece devido a uma epidemia de gripe, mas não antes de se tornar o primeiro salva-vidas profissional do país, fazendo dúzias de notórios salvamentos.

Pequenas comunidades de surf se formaram através da Califórnia durante este período, da Baía de San Francisco até San Diego. Regionais clubes de surf se organizaram, primeiramente em 1928 – fundado o Pacific Coast Surf Riding Championships – se estabeleceu em Corona Del Mar, depois San Onofre – trazendo junto dúzias dos melhores surfistas de norte ao sul da costa. Tom Blake estreou sendo o primeiro num evento de remada de Pacific Coast, usando uma prancha oca de seu próprio designe. A oca “cigar-box” de Tom Blake – era mais longa, mais leve e mais instável do que as pranchas convencionais (planks) – começou a ser comercializada em Los Angeles no começo da década de 30, ajudando a introduzir o esporte para centenas de iniciantes. Blake originalmente também era o fotógrafo de surf (um portfólio de seu trabalho foi publicado em 1935 numa reportagem na revista National Geographic). Inovador das quilhas (juntamente com Woody Brown, em La Jolla, em 1935, Tom Blake introduziu uma quilha em sua prancha oca de 14 pés nas ilhas do Hawaii) e autor do primeiro livro de surf (Hawaiian Surfboard, também em 1935) e alguns artigos de “faça-você-mesmo” de construção de pranchas na Popular Mechanics e Popular Science.


Tom Blake.


Em uma linha similar de desenvolvimento em Austrália, haviam surfistas que se consideravam um subconjunto da Associação dos Surfistas Salva-vidas. Sidnei era nacionalmente conhecido como a praia popular dos surfistas, mas no começo da década de 40 os clubes de salva-vidas, preenchidos de surfistas, se estabeleceram nos estados de Queensland, Victoria, sul e oeste de Austrália. Surfistas favoreceram as pranchas ocas do que as pranchas convencionais, em grande parte por que as pranchas ocas eram os veículos de salvamento dos salva-vidas.

O designe das pranchas andou um passo a frente no ano de 1937, quando um grupo de adolescentes de Holulu, incluindo John Kelly e Wally Froiseth, inventaram as pranchas hotcurl (como havia dito anteriormente), possibilitando os surfistas a surfarem nos lugares mais críticos das ondas em ondas de 12 a 20 pés.

A Segunda Guerra Mundial trouxe o fim da fase moderna pioneira, quando surfistas alistados e transferidos para o exterior foram obrigados a se armarem contra os Japoneses nas mais populares praias dos continentes. Colônias de surf se estabilizaram em Durban na África do Sul, Lima no Peru e de norte a sul da America. O esporte foi exportado para a década seguinte para França, Inglaterra, Canadá, Espanha, Brasil, Irlanda entre outros.


Osmar Gonçalvez, em sua prancha de 80kg. São Paulo.

11/05/2009

Surf Moderno: parte I

Pescadores incas, onde agora o norte do Peru se localiza, deslizavam sobre o mar em suas canoas feitas de bambus possivelmente cerca de 3.000 anos a.C. Mas o surf que nós conhecemos hoje é uma invenção polinésia, onde os grandes desenvolvimentos desta área foram nas ilhas havaianas. O surf ereto, oposto do surf deitado ou ajoelhado, provavelmente começou por volta de 1.000 anos d.C. e rapidamente foi introduzido à cultura havaiana, praticado pelos plebeus e realezas, jovens e idosos, homens, mulheres, e crianças. Vilarejos eram brevemente desertados quando um bom swell chegava, como todas as pessoas ali participavam do evento. Mitos e lendas passaram de geração a geração, dramatizando os surfistas e suas proezas do passado.





Os troncos de árvores de madeiras de lei se transformavam em pranchas, compostas de árvores de koa ou “williwilli”. Eram moldadas grosseiramente com machados, alisadas com um pedaço de coral, lixadas com pedras e seguidamente friccionadas com raízes ou cascas de árvores. Existiam três tipos de pranchas: a paipo que era usada na barriga e normalmente feita para as crianças; a alaia media entre 7 a 12 pés de comprimento, era surfada na posição de bruços, ajoelhado ou em pé; concluindo com o majestoso olo, medindo acima de 16 pés, usado apenas pelas realezas. A Big Island de Hawaii obtinha a grande concentração de surfistas, seguidamente vinha a ilha de Oahu.

No século XVIII, capitão marítimo e explorador James Cook, durante sua terceira e última viajem entre o Pacífico, veio após de um surfista de canoa em 1777 em Taiti, “Eu não pude deixar de concluir, que este homem sentia o maior prazer supremo enquanto este deslizava rapidamente e suavemente sobre o mar”, enquanto apreciava e notificava em seu diário de bordo. Décadas depois, gravuras feitas pelos visitantes europeus ofereciam um vislumbre romântico da “ainda não atávica” cultura havaiana.


Capitão James Cook.


Calvinistas Missionários americanos fundaram seus primeiros estabelecimentos nas ilhas havaianas em 1820, fazendo uma perícia detalhada na cultura local. Assim que os visitantes estabilizaram uma teocracia, o surf foi desvirtuado como improdutível, desregrado e perigoso. Mas não banido por completo, como o surf relacionado com festivais fora cancelado, enquanto as apostas de jogos e o lazer em si foram denunciados como imorais.


Família missionária, Shipman.


Em 1892, como um filho de um missionário notou com um toque de amargura, que o surf tinha desaparecido sob o “toque da civilização”, e pranchas de surf eram raramente vistas fora dos museus. Entretanto, sem a imunidade natural contra os europeus, e até mesmo americanos, nasceram doenças, dizimando os nativos aos milhares. Após, foi estimado que a população havaiana fora reduzida os incríveis 90% entre a chegada de Cook e o final do século XVIII.

03/05/2009

Dickie Cross, 22 de dezembro de 1943.

Peter Cole, Waimea.


Como havia dito na publicação anterior, a Baía de Waimea ficou sem ser surfada por mais de 10 anos após o trágico episódio de Woody Brown e um jovem garoto de apenas de 17 anos, chamado de Dickie Cross.

No começo da década de 40 o North Shore era apenas uma linha de praias virgens recém descoberta, onde somente poucas das inúmeras praias já haviam sido desbravadas. Uma dessas praias era Sunset Beach, cuja praia Woody Brown só havia surfado apenas meia dúzia de vezes. No dia de 22 de dezembro de 1943, acompanhado por um jovem garoto chamado Dickie Cross, rumaram para a costa norte com intuito de surfar em Sunset. Uma das armadilhas que as ilhas hawaiianas podem oferecer aos surfistas mesmo os experientes, são os swells relâmpagos que podem costear a costa em um suspiro. Como Woody só havia tido lá apenas algumas vezes, não tinha o conhecimento que o local estava pronto para receber um dos swells que as ilhas não haviam sofrido há anos.

Ao entrar no canal de Sunset, os dois se depararam com um swell crescente de ondas subindo para os 20 pés. Com a inexitosa tentativa de sair do mar pelo canal devido a forte corrente que estavam segurando-os no local e com as grandes ondas que quebravam no horizonte varrendo toda a costa norte, os dois tiveram a idéia de remar para a Baía de Waimea. Woody completa, “Você tem que tomar cuidado com esses canais. Quando a onda fica grande, a correnteza te leva para auto mar. Com isso, concluímos que a única coisa a fazer era esperar a série passar – o intervalo entre as séries era de cada 10 minutos – e remar os 6 km para a Baía de Waimea, pois quando a gente estava vendo as praias anteriormente, a praia estava com um bom canal e apenas quebrando 20 pés limpos no canto direito da praia. Com isso nos sentimos mais calmos com a situação: grande praia, ótimo canal, tranqüilo quebra coco”.

Os dois após escaparem das grandes séries, chegando a Waimea, viram que o cenário desejado desta não estava conforme previsto, pois o swell estava muito maior e constante. George Downing jurava que neste dia as ondas estavam passando dos 40 pés fáceis.

Woody concorda, “Yeah, eu concordo, fácil. Na nossa remada a Waimea, após chegar, começamos a remar para a costa. Esse rapaz que estava comigo era apenas um jovem corajoso. Era daqueles: toda coragem e nada de cabeça. Apenas, ‘Humm’.”

Com a perícia do local feita, Woody percebe que eles estavam na linha da arrebentação e alerta ao jovem que deviam sair do local para o lado central da praia. Ignorando Woody, Dickie continua a remar no lado direito da praia sem nenhuma idéia da situação onde se encontrava. Com Dickie remando no lado direito, Woody o acompanha remando paralelamente a ele ao lado central da praia.

O que os dois temiam aconteceu, em outras palavras, uma série no horizonte vinha em sua direção. Woody, “Rapaz, era como uma escada até onde você conseguia ver, ficando cada vez mais íngreme. Você podia ter o maior trabalho remando, mas você ainda estaria subindo na face dela.”

“Eu consegui atravessá-la, sentei na prancha e procurei o meu companheiro, porque ele estava mais no raso do que eu. Eu apenas não conseguia ver ele! E então, eu o vi subindo no topo da última onda, e estava tão inclinada. Ele e a prancha simplesmente foram jogados para traz da onda. Depois disso ele remou em minha direção e eu perguntei, ‘Dickie, você acha que conseguiria ter sobrevivido dessa onda? ’.”

Ele falou, “Claro que não!”.

Concordaram que as ondas daquelas séries estavam nos incríveis 60 pés. Voltando a remar para a costa, Dickie volta a se afastar de seu companheiro, mesmo após terem concordado de atravessar no meio da baía com o intuito de estudarem a série para verem como iriam se comportar em suas decisões.

Woody, “Ele apenas não prestava atenção alguma. Parecia que era hora dele, como alguma coisa o chamava, sabe? Considere seu comportamento. Ele chegava cada vez mais perto do pico das ondas intermediárias, cada vez mais sobre as ondas. Apesar de ter sido quase pego pelas ondas e ter concordado que não sobreviveria com a queda destas, ainda continuava me ignorando. Parecia que era a sua hora... eu não sei.”

As ondas intermediárias estavam quebrando 20 pés constantemente, e as séries vinham aos incríveis 60 pés em intervalos de tempo de 10 minutos cada.

Finalmente Dickie se vira e rema para uma onda onde consegue dropá-la, mas perde sua prancha logo em seguida. Os dois se viram na situação de “dois homens, uma prancha”. Começam a remar em direção um do outro, mas infelizmente Dickie aponta para o horizonte aonde vinham aquelas montanhas d’águas de 60 pés de altura vindo em sua direção. Woody foi obrigado a ceder e rema em direção delas para não ter o trabalho de perder a sua e única prancha do local.

Woody exclama, “Minha única chance era salvar a única prancha que nós tínhamos. Eu remei em direção das ondas, passei pela primeira, e começou a vir cada vez mais, ficando maiores e íngremes, cada vez mais crespas em seus topos. Bom, eu vi que não iria conseguir passar de todas. Então veio uma em minha direção, eu arremessei a prancha e mergulhei de cabeça para o fundo. Essa é a única chance em ondas grandes: mergulhar para o fundo”.

“Eu podia mergulhar 30 pés naquele tempo e me safar, e rapaz, eu sentia ser sugado para cima e jogado para baixo de novo. Eu conseguia ver a espuma borbulhando atrás e embaixo de mim. Eu a 30 pés submerso a espuma me alcançava! Você não tinha condição de sobreviver assim”.

Logo em seguida ao emergir, não localizando com êxito o seu companheiro Woody retirando seu calção para aliviar o peso, toma a última decisão de remar ao canal central onde as ondas da série poderiam estar menores e menos fortes. Já no canal, viu que sua sorte estava melhorando quando viu uma série monstruosa quebrando 500 metros de distância de sua localização.

Pensou, “Eu consegui passar desta vivo, talvez eu tenha alguma chance, pois as ondas me jogavam cada vez mais perto da praia, certo? Cada vez eu mergulhava um pouco menos e eu vi que eu estava me aproximando da areia. Finalmente chegando a ela, cansado e sem nenhuma força, rastejei-me com as mãos e joelhos onde em minha direção veio um grupo de homens do exército me socorrer. A primeira coisa que eu falei foi, ‘Cadê o meu companheiro?’ Eles falaram, ‘Oh, após que ele tentou pegar a primeira onda grande, ele foi pego por ela, conseqüentemente não o avistamos mais’. Eu percebi que esse garoto tinha tanta coragem, que ele tentou pegar de peito (bodysurf) a onda.”



Bibliografia: Legendary Surfers.