28/04/2009

Makaha Waves

Makaha é um dos picos mais ilimitados do qual eu tenho conhecimento, tanto no tamanho das ondas quanto em sua freqüência. Localizada ao lado oeste da ilha de Oahu, a praia é banhada por vales de lavas derretidas ao longo da costa. No verão as ondas não passam dos 4 pés, diferenciando no inverno onde elas podem passar dos 25 pés em um piscar de olhos.

Proclamada o segundo epicentro de ondas grandes do mundo – logo após de Waikiki – e também considerada pela revista Surfer Magazine uma das “25 melhores ondas do planeta” em 1989.



Um trecho do filme Slippery When Wet de Bruce Brown, em 1958.



Wally Froiseth e o resto da “gangue” de Hotcurlers, no inverno de 1937, foram fazer pesca submarina na praia de Makaha onde de repente um swell relâmpago bateu na costa oeste da ilha, fazendo quebrar ondas de 15 pés. Além de Castles e Brown’s, os hotcurlers começaram a surfar no novo pico onde podia pegar a maior e a mais longa parede que a ilha de Oahu poderia oferecer naquele tempo. Com um bom canal cujo surfista poderia remar tanto para entrar no mar quanto para sair.


Surfista desconhecido.



Wally explica em seus primeiros dias de surf em Makaha, "No começo, eu e o pessoal – os Hotcurlers – sempre convidavamos as pessoas a se juntar no mar, mas podiam acontecer duas coisas, a primeira era o mar estar flat fazendo com que as pessoas não acreditassem que rolava ondas boas naquele local, e a segunda coisa que podia acontecer, era as ondas estarem grandes demais fazendo com que as pessoas se espantassem o bastante para ficar sentados na areia apenas olhando”.




Woody Brown exclama, “O quebra coco era horrível, as ondas quebravam de 6 a 8 pés na areia, então a gente tinha que jogar as nossas pranchas no mar e mergulhar rapidamente para não sermos pegos. As ondas são previsíveis naquela praia, elas se diferenciam de acordo com o ângulo de direção de cada swell. Tem dias excepcionais que a pessoa conseguia completar todas as ondas, e tinha outros dias que era horrível, não importa onde a pessoa sentava, a onda arranjava um jeito de te pegar”.


Buzzy Trent à esquerda.
Notem que as rabetas das pranchas ainda estão se adaptando com a evolução dos outlines.
Makaha, 1953.


Na época da redescoberta de Makaha, Whitey Harrison e Gene Smith começaram a surfar no North Shore, primeiramente em Haleiwa e logo mais, na praia de Sunset no final da década de 30. Com o episódio de Dickie Cross em 22 de dezembro de 1943 – que logo mais estarei publicando a respeito – os surfistas pararam de surfar no North Shore por aproximadamente 10 anos. Assim o centro do surf de ondas grandes se voltou totalmente à praia de Makaha.




Ao longo dos anos, surfistas do continente como Greg Noll, Fred Van Dyke e Ricky Grigg começaram a surfar nas ilhas após a grande publicação de um jornal famoso que rodou o país inteiro em 1953, cuja foto da capa deste continha Buzzy Trent, George Downing e Woody Brown descendo uma onda de 20 pés face em Makaha. Com essa publicação, a popularização de ondas grandes só estava começando, e a peregrinação para o Hawaii era o lugar certo.

Jornalista cujo nome desconheço no qual bateu a famosa foto.

Graças à Makaha, grandes ídolos foram encorajados a surfar as destemidas ondas gigantes da ilha de Oahu, ídolos como: Fred Van Dyke, Bob Simmons, George Downing, Woody Brown, Walter Hoffman, Buzzy Trent e principalmente Greg Noll por ter pego a sua última e proclamada a maior onda já pega de todos os tempos para a época, em dezembro de 1969 no grande swell, onde as ondas passavam dos incríveis 35 pés, que logo mais estarei também publicando a respeito.


Bob Simmons & Walter Hoffman.
Makaha, 1953.


Dou a vocês uma lista de filmes no qual a praia foi protagonista de sucesso: Trek To Makaha (1956), Slippery When Wet (1958), Barefoot Adventure (1960), Cavalcade of Surf (1962), The Endless Summer (1964), The Golden Breed (1968), Five Summer Stories (1972), Ocean Fever (1983). Surfers: The Movie (1990).

22/04/2009

Edição do Verão

Aloha!


Sejam bem vindos a mais um capítulo de Back to Singlefins. Como todos cidadãos do Sul sentiram na pele que nesse verão não foi forte de swells e ondas, editei à vocês um vídeo mostrando um ordinário dia de surf no verão, um dia raro de ondas boas. Agradeço a Mattson 2 por ter criado uma melodia perfeita repassando um pouco da atmosfera desta pequena curta metragem.




14/04/2009

Uma breve Filosofia


Muitos devem pensar que a história do nosso esporte deve estabelecer o lugar no passado e ali permanecer, fazendo com que ocorra o esquecimento total de uma cultura "atrasada". Dar-lhe-ei um breve ponto de filosofia, retirado por um notável etnólogo francês, Pierre Clasters, adaptando, assim, ao nosso assunto.


Inicialmente, farei uma advertência. O problema que sempre existe ao vermos a cultura "surfística" antiga é o risco do exotismo e da comparação depreciativa, ou seja, do etnocentrismo. Se, por um lado, as pessoas se encantam e se surpreendem com as estranhas atitudes e ideologias únicas dessas tribos, por outro não relutam em considera-las inferiores, atrasadas.


Daí a tendência de classificá-las a partir das nossas categorias, como a cultura "perdida", "tabú" e "obsoleta". Se explicarmos essa cultura perdida pelo o que lhe falta, tendo o ponto de referência a nossa sociedade, deixamos de compreender a sua realidade, consequentemente o espírito, o que em muitos casos, acaba por justificar a atitude paternalista e missionária de "levar o progresso, a cultura e a verdadeira emoção" à "cultura atrasada".

06/04/2009

Os Hot Curl, por Greg Noll

Um trecho retirado e traduzido do livro Greg Noll – The Art Of The Surfboard, explica uma das primeiras viajens de Greg para o Hawaii, relatando os últimos indícios dos surfistas que ainda adotavam as pranchas Hot Curl. De acordo com as páginas 136 e 137 do livro:


Greg Noll – The Art Of The Surfboard


“Quando eu fiz a minha primeira viajem às Ilhas como um garoto de 16 anos de idade, ainda havia alguns hawaiianos que surfavam com as pranchas Hot Curl – Buffalo, Henry Preece, e Gigi Kaiao junto com seus cinco irmãos.
Vendo eles nestas pranchas era incrivelmente uma coisa graciosa e hábil de se ver. Eles conseguiam total controle... e como eles se mantinham nas pranchas após suas rabetas deslizarem de lado e para fora ainda é um mistério para mim.



Greg em sua primeira viajem para as Ilhas, em 1953. Foto tirada em Makaha.
Notem que o bottom perto do bico era usado nas pranchas antigas de ondas grandes, para que a prancha não sofresse muito nas regularidades das ondas.



Apesar de John Kelly, Fran Heath, Wally Froiseth e George Downing serem credibilitados por produzirem as primeiras pranchas Hot Curl, os hawaiianos adotaram elas quando George e Wally vieram surfar em Makaha. Com a falta de modelos para criar um estilo, eles fizeram o que os hawaiianos fazem de melhor – eles mantiveram a simplicidade.

Meu bom amigo Henry Preece me explicou um dia que eles roubavam as madeiras redwoods por onde eles conseguiam achar, em seguida, tomavam suas azagaias de mergulho (chamados de Hawaiian slings) e dobravam-nas para fazer o contorno do “outline” da prancha.


Pagina 136. Quatro fotos de réplicas dos Hot Curl com a foto acima de Henry graciosamente mandando um beijo para a onda de Haleiwa em 1960.



Com a ajuda de Henry, uns 50 anos mais tarde, consegui algumas madeiras redwoods, usei minha azagaia de mergulho, com toda a certeza, funcionou perfeitamente, fazer um dos mais bonitos, lustroso, e fluido “outline” que eu já tinha visto.

Que grande sensação trazer de volta uma dessas Hot Curl como um tributo para os Hawaiianos de Makaha! Ainda mais marcante, foi esta prancha que eu construí e presenteei o meu bom amigo e um dos melhores surfistas de todo o tempo, Phil Edwards.



Mary e Phil Edwards atualmente,
junto com o presente de Greg.


Se eu fecho os meus olhos e relembro o passado, ainda consigo ver os meus amigos hawaiianos em plena postura de arco, deslizando abaixo a face de uma perfeita onda de Makaha, com a luz do Sol refletida por ela, e um vento terral o suficiente para segurar o lip. Aloha!”

–Greg Noll