31/03/2009

Ciclos Hawaiianos

Olá. Bem vindos à outra publicação do Back to Singlefins.

Retirado e traduzido do blog Legendary Surfers, uma das conversas que mais admiro com Woody Brown sobre seu tempo de big rider na costa sul e oeste de Oahu. Um diálogo que transmite a intensidade de como era ser um dos poucos big riders da década de 30, logo após o renascimento do surf.

A nova era do surf em ondas grandes começou nos anos 30, na costa Sul, Oeste e Norte da ilha de Oahu. Mal faziam três décadas do renascimento do esporte quando Woody chegou às ilhas. Nesta época, o epicentro do surf ainda consistia a praia de Waikiki.


Nativo. Diamond Head ao fundo. Anos 20.

- Mencionado que ambos, Duke Kahanamoku e Tom Blake, haviam dito e escrito que a praia de Waikiki em certas ocasiões chegava a dias excepcionais que era muito raro. Era verdade?

Tom Blake e Duke Kahanamoku.


- Oh, - Woody exclama - claro que sim! Meu Deus, as ondas quebravam em uma só arrebentação antes de alguém conseguir chegar lá. Ocorreu que teve um ano que estava quebrando tão grande, que a costa inteira fechou pelos espumeiros e o horizonte não tinha meio de visualizá-lo. As ondas do Porto de Honolulu estavam quebrando nos incríveis 30 pés. Então, os pioneiros de ondas grandes, que já eram poucos esses loucos, subiram para Black Point onde tem um penhasco de pedra que desce até o mar. As águas do pé deste penhasco eram fundas fazendo com que as ondas não quebrassem ao encontro das pedras. Os pioneiros jogavam as pranchas lá de cima e mergulhavam, e então remaram até chegarem à frente da praia de Waikiki, provavelmente uma milha de distancia da areia. A arrebentação como havia dito era só uma, limitando apenas em uma tentativa. Mas eles não se importavam muito, apenas apertavam as mãos dizendo, “OK, em caso de a gente não se ver mais...”. Faziam isso e dropavam as ondas ou levavam uma tremenda vaca fazendo com que eles nadassem o caminho todo até a praia. Eu conto a vocês, falo sobre coragem.


Makaha. 1953.


- Você estava mencionando Wally Froiseth, John Kelly e Fran Heath?

- Eles eram um dos principais – Woody relembra –, vamos ver, também havia Rus Takaki – um garoto japonês-, e um garoto coreano que esqueci o nome, mas eram os principais que eram capazes de remar essa distancia toda quando o mar estava daquele jeito. Ninguém mais tinha o pensamento de ir se juntar. Eles acharam todos os lugares que quebravam ondas grandes em torno de Oahu, antes de eu ser um dos primeiros a surfar no North Shore por volta de 1940. Parecia que o surf nos anos 30 era maior. O ciclo mundial muda. O surf começa a ficar grande em diferentes partes do mundo por causa deles. Nós não éramos civilizados o suficiente para deixar gravados esses ciclos, talvez de até 100 anos. A gente não sabe.


Os hot curlers
Fran Heath, John Kelly & Wally Froiseth.


- Você não acha que as pessoas se acostumaram com o tamanho?

- Não, oh não, não. As ondas eram maiores. Como havia dito os barcos não conseguiam chegar perto do Porto de Honolulu. Eu nunca mais vi disso nos últimos 50 anos que estou nas Ilhas. Esses dias excepcionais eram em torno de 1930. Quando íamos ao mar de Castles, as ondas eram 25 pés, onde não quebravam ondas menores de 10 pés. Atualmente, quando o meu amigo Wally Froiseth relembra, “Então Woody, não tem mais daqueles dias, hein!”. Não ocorre mais isso por alguma razão maior. Como eu digo, em minha opinião são os ciclos. Tem todo o tipo de ciclos que nós estamos começando a entender...


Wally Froiseth. Makaha, 1953.

Comentários
1 Comentários

Um comentário:

Marinho Presidente disse...

Excelente a entrevista com Woody . Os ciclos acontecem em todos os lugares do mundo e em vários níveis. O que falta é o registro desses ciclos, na maioria dos casos. Surfo no Recreio dos Bandeirantes há cerca de quatro décadas e costumo dizer aos surfistas mais jovens que, na Praia da Macumba, em frente às ruas 1 W, 2 W e 3W, só quebravam ondas quando havia um "big swell". Nos anos setenta, eu e meus amigos chamávamos o local de "Waimea Bay", claro que brincando, pois não nunca houve comparações de tamanho. Com o passar das décadas, formou-se por ali, bancos de areia que hoje dão condições para que lá quebrem ondas de até meio metro. Imaginem o que tais ciclos podem proporcionar no North Shore.
msg de Marinho pela ASCR (asscantodorecreio@gmail.com)