29/04/2010

Projeto

Meus caros, logo uma novidade antiga nasce no berço de Santa Catarina: Pat Curren's Big Gun Model, 11'5 pés.




19/02/2010

A real Banzai Pipeline



Bem vindos a mais um capítulo de Back To Singlefins. Neste dedicarei aos amantes de Banzai Pipeline e seus poderosos “reefs” misteriosos. Como registrado e comercializado, o trecho em que Ricky Grigg, Mike Stange e Greg Noll se depararam com uma tempestade colossal mostrando não deixar pretendentes que Banzai Pipeline se tornou um dos picos mais intrigante na época de 60 e 70.

Banzai Pipeline, como todos sabem, é um pico traiçoeiro e com uma arrebentação muito perigosa, fato este por ter sido um dos últimos picos de ondas grandes a ser desbravado. A localização desta bancada rasa faz com que as ondas quebrem muito perto da praia. A onda é selvagem e rápida onde qualquer “incoming” vaca faz com que o surfista seja sugado novamente pelo lip e remessado para baixo contra os referidos corais.

Todos aclamam que Phill Edwards foi o desbravador desta praia, mas há relatos que muitos outros surfistas já pegaram onda nesta praia com pranchas ou até mesmo surf de peito, a respeito disto, será apreciado em outra publicação.

Por volta dos anos 50 e 60, no qual eu chamo o fim da era de ondas grandes, a terceira bancada de Banzai Pipeline quebrava raramente, era o famoso Elefante-Branco, pois o swell tem que estar liso e na direção certa para atingir a bancada, o vento em conforme, enfim, tudo tem que estar a favor.

Greg Noll explica, “Eu estou falando bem mais atrás! Primeiro tem as ondas de Inside Pipeline (primeira bancada) onde Phil Edwards – supostamente – desbravou e onde todo mundo surfa atualmente. Os campeonatos também acontecem ali. Diversas jardas adiante têm o lugar chamado Outside Pipeline (segunda bancada), que de vez em quando quebra quando a primeira bancada está muito grande e perigosa. Mas não é a bancada que eu estou falando. Inferno, aquela coisa que eu surfei quebrou quase a uma milha de distância, no extremo da água escura...”

“Isso aconteceu em um dia de novembro de 1964. Waimea estava close-out, Sunset estava insurfável e a primeira bancada de Pipeline estava uma bagunça. Tem uma foto aquele dia que me mostra abraçando a prancha – uma 11’6 – com o braço direito, olhando Pipeline quebrar. Essa foto foi usada como pôster para o filme Big Wednesdey – o original. O que muitas pessoas não entendem que aquela onda da foto era apenas o ‘rasinho’."

“Levou uma hora para que eu e Mike – Stange – entrássemos na água. Quando nós andamos até o nível da água, a gente não conseguia ver o que estava acontecendo lá fora, pois o raso estava muito grande. Então Ricky – Grigg – nos guiou, em cima da areia. Nós sabíamos que podíamos confiar no julgamento de Ricky. Ele ficou lá em cima da areia nos direcionando com quaisquer sinais que ele podia nos fornecer.”

“Para conseguir sucesso na entrada, a gente tinha que atravessar esse monstruoso raso e uma enorme correnteza lateral. Depois de analisar bem, nós notamos que havia um pico onde uma correnteza entrava pela lateral e formava uma calmaria, uma abertura onde podíamos obter vantagem da corrente e atravessar rapidamente a bancada do raso. O problema era que, a gente tinha que começar a mais ou menos trezentas jardas deste pico e remar com a correnteza, tempo certo este que nós iríamos ser jogados através desta ranhura em vez de voltar direto para a areia.”

“Nós fomos pegos e jogados para a areia pelo menos quatro vezes para até então conseguirmos. Nós começamos de manhã e terminamos gastando aproximadamente oito horas na água.”

Após três horas de remada, ambos conseguiram chegar à referida e querida bancada. “Quando nós chegamos naquela bancada distante, não havia ‘lineups’, nada para nos indicar onde tínhamos que estar. Apenas quatro sérias quebraram nesta bancada naquele dia. Nós vimos uma onda quebrar e remamos feitos loucos para chegarmos perto da espuma, para determinar a nossa lineup. A próxima onda quebrou em uma distancia de ¼ de milha de nós, então nós remamos forte para chegarmos naquele espumeiro antes que ele se dissipasse, com intuito de estabelecer uma referência. Então nós sentamos e esperamos aproximadamente duas horas até uma nova série surgir.”
“Havia aproximadamente de seis a oito ondas por série. O Sol bateu na face desses grandes muros d’águas onde terminavam na baía de Waimea fazendo uma beleza de tirar o fôlego. Era um dia surreal. Eu estava tão fascinado que eu parei de remar para apenas visualizar essa onda passar. Era como uma pureza, energia líquida. Então eu acordei e falei a mim mesmo: ‘É melhor você acordar, se esta onda quebrar em sua cabeça, você poderá acabar sendo sugado pelo espumeiro’.”

“Para estabelecermos uma lineup, nós lidamos com Kaena Point e um penhasco que fica atrás de Pupukea, pegando três ou quatro azimutes, até finalmente estabelecermos a nossa lineup naquele final de tarde, apenas uma onda particular veio. Foi a única onda que eu peguei naquele dia, e está permanentemente em minha memória.”

“A onda que eu peguei naquela bancada neste dia formou uma parede com mais de 25 pés mais ou menos uma milha de distância de mim, à minha frente. Era uma esquerda, então estava surfando em backside, goofyfoot, e foi uma sensação horrível. Em vez de ficar menor enquanto eu a surfava, a desgraçada crescia sobre mim. Ficou maior e maior, e eu comecei a ir mais rápido e mais rápido, quando eu estava totalmente travado. Parecia que eu era um homem do espaço praticando uma corrida no vácuo. Primeiramente, eu podia ouvir a minha prancha deslizando na crista da onda em um ritmo constante. Assim que a minha velocidade crescia, o barulho começava a ficar menos constante. De repente não havia nenhum barulho. Por mais ou menos 15 ou 25 pés eu estava no ar. Então, finalmente, eu fui jogado da minha prancha”.

“Quando eu atingi a água, pensei que eu iria me afogar. Eu sofri bastante antes que eu chegasse a superfície e a me preocupar com a próxima onda. Era uma gigante, também. Eu vi Mike remando nessa onda, mas ele tinha uma prancha menor do que a minha, fazendo com que não conseguisse velocidade o suficiente para fazer o drop...”.

"A pessoa tem que passar através de medos totalmente reais para começar a ter aquela decisão se dever ou não ir automaticamente. Você deverá decidir o quando estará disposto em correr tal risco, o quanto está disposto em desistir. Sua vida? Talvez. Isso depende o quanto você deseja essa onda.”

Após perder sua prancha, Noll obviamente nadou até a beirada da praia com auxílio de Mike.

“Naquele dia de Pipeline, Mike e eu sentamos na areia em olhamos praquela coisa aproximadamente duas horas. Nós estudamos as linhas de espuma, checamos a direção da corrente, botamos todas as circunstancias juntas e bolamos um plano.”

Em minha opinião, esse foi um dos episódios que mais me intrigaram da história do nosso esporte. Atualmente, eu pergunto para o pessoal que curte o surf progressivo a respeito de uma terceira bancada de Pipeline, e todos respondem sempre a mesma coisa: “Terceira bancada?! Tais louco, né? Não existe isso”.

Sou grato por saber a história desta praia e pretendo demonstrar para o pessoal que se interessa por ela os homens que se aventuraram e quase perderam as suas vidas fazendo aquilo que gostam, sem pressão, sem platéia, sem premiação, sem auxílio, sem leashs, apenas com seus instintos e o amor pelo mar.





Bibliografia: Legendary Surfers & Youtube.

08/02/2010

Registros de Makaha

Fotos por Walter Hoffman:
Wally Froiseth, Makaha. 1953.


Bob Simmons & Flippy Hoffman. Makaha. 1953.

Buzzy Trent era conhecido também por ser ótimo na prática da
pesca submarina. Makaha. 1953.

Buzzy Trent & pranchas. Notem a transição das rabetas antigas para as novas.
Makaha house. 1953.

Flippy Hoffman & Buzzy Trent. Makaha house. 1953.

Flippy Hoffman. Makaha. 1953.

George Downing, Flippy Hoffman & Buzzy Trent,
testando o novo design da big gun. Makaha. 1953.

Makaha. 1953.

Makaha. 1953.

Makaha. 1953.

Makaha. 1953.

Makaha. 1953.

Makaha. 1953.

Makaha. 1953.

Makaha. 1953.

Makaha. 1953.

Ted Crane. Makaha. 1953.

20/01/2010

Longboarder

Good morning, Vietnam!

Bem vindos a mais um capítulo de Back To Singlefins. Devo dedicar esse caloroso capítulo à este ano que nasceu e aos meus leitores fiéis e interessados na história do nosso glorioso meio de vida.

Não há gratificação maior quando, após muito esforço na publicação de um capítulo, leitores apreciam e comentam deixando suas opiniões ou até mesmo as suas visões daquilo tudo que os rodeiam na água, tanto brasileiros, como estrangeiros que também mandam email de longe versificando os seus pontos de vista. Há de notar a grande diferença entre as argumentações nativas e estrangeiras. Bom, a respeito desta tese, devo deixar para uma próxima publicação não muito distante.

Neste capítulo, indicarei a todos vocês, sem exceção, uma obra prima e crucial em nossa biblioteca cinematográfica, tal obra simplesmente e precisa chamada Longboarder. Como um historiador deste meio de vida e um estudante de Direito, ao estudar certo objeto, eu procuro sempre não formalizar uma opinião logo a primeira vista e apreciar qualquer referência voltada ao assunto em tese. Não podemos agarrar e nos basear naquilo que a gente acha certo logo em vista, o nosso objetivo é encontrar a real história visando em todos as direções possíveis.


Após a explosão dos filmes de Gidget, no qual a seqüência desta obra estereotipava a atitude dos surfistas da década de 50 e 60 os julgando de “surfing bums” quem era visto com os típicos calos nos joelhos de tanto remar ajoelhado, a sociedade começou a ver os surfistas com outra visão, vez que a moda era ser rebelde em face da sociedade, fazendo com que ficassem com o pé atrás quando se tratavam “dessas pessoas”.

A década de 60 foi se passando com o mesmo preconceito até o lançamento do filme Endless Summer de 1964, cujo criador Bruce Brown pôs dois pontos de vista que abalou o mundo, não só surfistico, mas também simpatizante. O primeiro ponto de vista foi as viagens fora de roteiro em que os surfistas Mike Hynson e Robert August pegaram, como África, África do Sul e Taiti, saindo do básico como Hawaii, Califa, Nova Zelândia e Austrália, abrindo os olhos do mundo que com bastante dinheiro e tempo poderá percorrer ondas perfeitas no mundo inteiro.

O segundo ponto, foi o balde de água fria na visão estereotipada em que os surfistas eram estúpidos e rebeldes, neste ponto, após o lançamento do filme, pessoas realmente começaram a ver os surfistas de outro jeito, mas não como antigamente, pois mostrava os dois astros principais saindo do avião de terno, com suas pranchas em baixo do braço e cabelos lambidos com todo o dinheiro do mundo a gastar. Isso realmente foi a diferença da água para o vinho.

Como o nosso país é pobre em recursos, tanto de filmes, quanto de livros, certos filmes que fizeram sucesso antigamente e que são indispensáveis em nossa biblioteca cinematográfica são muito difíceis de serem encontrados. Os únicos filmes antigos que circulam em nosso comercio são apenas feitos pelo não menos importante Bruce Brown, eis que o mesmo mostra um lado mais da elite do surf, deixando a imagem dos surfistas como foi mencionado anteriormente.

Não é o caso de Hal Jepson em sua obra Longboarder, um filme de difícil acesso. Este filme mostra o lado underground dos surfistas californianos nos anos 50 e 60, deixando evidente a juventude e a rebeldia que aquela época sofria. Um filme hilário como nenhum outro, diferentemente dos filmes de Bruce Brown, pois volta-se mais ao lado do jazz – Bud Shank -, Jepson capturou o espírito contemporâneo introduzindo na trilha sonora de seu filme as surfs musics em apenas uma seqüência.

Diferentemente de Brown ou Greg Noll, Jepson mostrou o lado mais rebelde e hilário, momentos como Pat Curren ser dono de uma concessionária, mas na real era um ferro velho, posteriormente ao se dirigir para Makaha, o mesmo joga o seu carro falho ladeira abaixo. Outro momento de destaque foi entre um shaper totalmente inexperiente e seu bloco de poliuretano.

Apesar de ser voltado ao lado underground do surf, esta obra não deixa de capturar certos surfistas da nata em ação, surfistas como: Greg Noll em Pipeline e Sunset Beach; Kemp Aaberg quebrando a vala em Rincón; Peter Cole, Mike Hynson e Phill Edwards em Sunset Beach; o famoso “Grandpa Conrad” em Ala Moana, cujo surfista em seus “100 pound” é capturado no filme Endless Summer na praia de Haleiwa; Pat Curren em Waimea; John Pack em Pipeline; David Nuuhiwa e Mickey Dora em seus longos noserides; Mickey Munoz em Malibu; e, por último, Butch Van Artsdalen sendo capturado pela onda que o transformou em Mr. Pipeline.

Editei três vídeos para vocês terem certa noção do que o filme Longboarder se trata.





Edição do trailer.



Edição das cenas mais impolgantes desta obra.



Um trecho em que mostra Pipeline em seus primeiros anos de desbravamento.

17/12/2009

Pictures: Parte II

Bob McTavish. Hawaii. 1965.

Bob McTavish. Hawaii. 1965.

Mike Hynson. Hermosa Beach, California. 1964.

Dell Cannon (topo) & amigos. Sunset Beach, Hawaii. 60's.

Desconhecidos. 50's. California.

Mike Doyle. 60's. California.

Dora & companhia. 60's. Malibu.

Marsha Bainer. Bing Copeland Surfboards. 60's. California.

Anos 40 e suas paddles boards.

Early 50's e suas novas madeiras Balsa.

Desconhecido.

Pelo incrível, a minha preferida. Seaside Heights.

Moana Hotel, 40's e seus salva-vidas.

Desconhecido. 60's. Sunset Beach, Hawaii.

Desconhecido. 60's. Sunset Beach.

Desconhecido. Redondo, California. Circa 1963.

Jeff Hakman. 1962. Sunset Beach, Hawaii.

22/11/2009

Board Room

Bem vindos a mais um capítulo do Back To Single Fins. Devo confessar que nesses dois meses passados o blog foi esporadicamente atualizado, consequentemente muitos leitores perdem a linha de raciocínio devido a inércia entre as atualizações. Este escritor e historiador explica que final de semestre as obrigações se acumulam e sobram muito pouco tempo para escrever, neste hobby que eu amo tanto.

Assim como o lançamento do filme Riding Giants que foi um grande sucesso, está para vir em 2010 o filme Board Room, norteado simplesmente aos shapers da época de 50 e 60. Shapers como: Michael Hynson, Donald Takayama. Bill Stewart, Rich Harbour, Terry Martin, Bruce Jones, Dick Metz, Renny Yater, Hap Jacobs, Robert August, Bing Copeland, Dick Brewer, and Larry Gordon. Não há o que se falar além de esperar para ver o que acontece.

De tantos nomes famosos de shapers, o principal, o maior shaper da época, o maior empreendedor não está entre esses neste filme. Não menosprezando os demais, mas, falta um pouco de Greg Noll, e claro, Pat Curren, no filme.

19/11/2009

Leroy Grannis: Parte III

John Severson, realizador de filmes de surf editor de publicações na mesma área, foi um dos primeiros a explorar o potencial das fotografias de surf em publicações especializadas. Em 1960, publicou The Surfer, um caderno de trina e seis páginas com fotografias e desenhos de sua autoria, que pretendia vender nas exibições do seu documentário Surf Fever. A publicação registrou um grande sucesso e a primeira tiragem de 5.000 exemplares esgotou rapidamente. Em 1961, avançou com uma edição trimestral que, um ano mais tarde, se tornou bimestral. Severson contratou uma pequena equipe e tornou-se editor integral. Em breve, Grannis iniciaria uma colaboração com a revista Surfer e com a efêmera Surfing Illustrated.

As primeiras revistas de surf resumiam-se a projetos de garagem, criadas e distribuídas no circuito fechado dos adeptos deste esporte. Quando surgiu a Surfer, a imprensa era um meio de massas que começava a abrir as portas à editores com orçamentos limitados, como Severson, e os gigantes do cinema tinham começado a explorar este esporte em filmes como Gidget (1959) e Ride The Wild Surf (1964). Na Califórnia do Sul, as fotografias dos surfistas em ação e o grafismo colorido do surf atraíam a indústria televisiva e cinematográfica de Hollywood. “De repente, surgiu a oportunidade de distribuição maciça de uma imagem feita pelas nossas mãos”, afirma John Van Hamersveld, antigo diretor artístico da revista Surfer e criador do lendário cartaz fluorescente do filme The Endless Summer. “Através das revistas ou dos filmes de surf, a media levou esta pequena cultura isolada até os produtores da cultura de massa”.


Em 1966, a “mania” do surf de há cinco anos tinha se tornado uma verdadeira cultura para os jovens, a qual não faltava uma linguagem, música, moda, publicações, carros e um código de honra próprio. O interesse do grande público no surf atingia níveis inéditos, fazendo a fortuna de um pequeno cartel de fabricantes de produros de surf da Califórnia do Sul, também conhecido como “Dana Point Máfia”. Este esporte ainda na sua infância, que mais se assemelhava a uma religião do que um passatempo de fim-de-semana, beneficiou de um forte impulso mediático com o lançamento nacional nos EUA, em julho de 1966, do filme The Endless Summer realizado por Bruce Brown. Este documentário criativo e acessível proporcionou ao mundo desconhecedor do surf (as “legiões de frustrados”, como o grande surfista Phil Edwards lhes chamava) a primeira perspectiva legítima da cultura do surf insular, tendo despertado um enorme interesse. Estava aberta uma nova corrida ao ouro.

Em San Diego, os edis da cidade e os organizadores do campeonato mundial de surf não acessavam de se congratular mutuamente pela respeitabilidade que surf adquiria nos últimos tempos. Com o campeonato que se avizinhava, a organização esperava inverter uma maré de “hooliganismo no surf” e má fama que acossavam o esporte desde a sua primeira explosão, na sequência do lançamento do filme Gidget. A câmara de comércio de San Diego registrou um forte aumento do turismo, à medida que este esporte de praia atrativo e de rápido crescimento conquistava a atenção da juventude consumista do país a um ritmo alarmante alucinante.



Ao mesmo tempo, porém, começava a instalar-se uma onda de conservadorismo neste modo de vida outrora boêmio. Uma campanha liderada sobretudo pela revista Surfer de Severson tentava extirpar os elementos “indesejáveis” do meio surfístico. A linha editorial da revista ganhou um tom mais peremptório, com editores convidados e cartas de leitores escolhidas a dedo se regozijavam com a derrota infligida pelo surf organizado aos desordeiros deste esporte, também conhecidos como hodads, que tinham manchado o nome do surf com partidas de mau gosto e uma conduta pouco própria para com as figuras de autoridade. O surf “já não é apenas para excêntricos”, declarou John Hannon, um dos principais fabricantes de pranchas da Costa Leste, numa entrevista à Newsweek. “São jovens limpos e bem arranjados, que não tolerarão os desordeiros”.



O tiro de partida da “Revolução das Pranchas Curtas” e a conseqüente desintegração da simplicidade do meio surfístico do princípio dos anos sessenta, foi disparado a 2 de Outubro de 1966, em Ocean Beach, San Diego. Foi nesta praia que, com o céu nublado e uma fraca ondulação, Nat Young venceu o campeonato mundial de surf com uma abordagem radical e incisiva, que deixou a elite da altura boquiaberta. Quando David Nuuhiwa, o pequeno havaiano favorito, famoso pelos seus longos e elegantes noserides, insistia com Young que era preciso formar uma comunhão com a onda, este respondia dizendo que não queria uma comunhão com nada. A retórica de Young era tão impertinente como o seu equipamento. Ganhou o campeonato com uma “Magic Sam”, e uma prancha que ele próprio fizera e que media 9,4 pés (2,90 metros), um pé (30 cm) a menos do que o padrão da altura. Concebida em conjunto com outro australiano, Bob McTavish, a prancha estava equipada com uma quilha comprida com um formato de uma cimitarra, que tinha sido criada pelo excêntrico guru do surf norte-americano George Greenough. Da noite para o dia, uma geração de pranchas de surf robustas e sofisticadas viu-se condenada à condição de peças de museu em virtude de uma evolução drástica ao nível da tecnologia, das manobras e das mentalidades. Com a vitória de Young, o surf sofreu um abalo nas suas convenções que durou mais de dez anos. O grande Young, cuja alcunha “The Animal” se devia ao estilo viril, tinha acabado de mostrar o futuro ao mundo do surf. Antes de 1966, a manobra era o hang ten, mas agora valia tudo. Chamavam-lhe “surfar com a mente” e, na opniào de Paul Gross, jornalista da revista Surfer, era “uma deserção em massa de tudo aquilo que acontecera antes”. Porém, na altura, ninguém pareceu dar por isso.


Ao mesmo tempo, as drogas psicodélicas invadiram a cultura do surf como um incêndio descontrolado, abrindo algumas mentes e dando cabo de outras. O surf tornou-se introvertido e alternativo, os jovens que usavam roupas Jantzen deixaram crescer a barba e aderiram a um misticismo Zen militante. Os campeonatos deixaram de se interessar e ninguém queria saber quem ficava em primeiro lugar. Era uma postura de total desinteresse. De repente, o surf deixara de ser um desporto com manobras e troféus, passando a ser encarado como uma forma de equilibrar os fluxos cósmicos em “catedrais cristalinas de vidro derretido”, como referiu um leitor da revista Surfer. Já no início de 1966, Rick Griffin introduzia referências sub-reptícias a drogas nas bandas desenhadas que assinava para a Surfer, o que deixou furiosos muitos dos principais anunciantes da revista. O estilo de vida aventureiro e sem limites tambémlevou a que muitos surfistas se tornassem traficantes de droga internacionais a tempo parcial. “Ou se estava dentro, ou se estava fora”, escreveu Drew Kampion, editor da revista Surfer entre 1968 e 1972. “Ou se tinha, ou não se tinha. Acreditava-se na gravidade ou no espaço. Era-se rígido ou flutuava-se. E havia tanta gente a flutuar.”

Depois de um breve namoro com a respeitabilidade convencional, a cultura surfística voltava a assumir as suas raízes de movimento alternativo ao poder instalado e isso não passou despercebido ao mundo exterior. No seu famoso ensaio de 1966, The Pump House Gang, o crítico da cultura pop Tom Wolfe escreveu que muitos surfistas “estavam a passar do surf para a guarda avançada de outra coisa, o mundo alienado e psicodélico da Califórnia”. A geração de jovens consumistas bem comportados que as empresas norte-americanas acarinhavam tinha dado o lugar a um bando de cabeludos janados, que não hesitavam em fazer um manguito ao materialismo.




O impacto econômico foi profundo. Nos anos seguintes, a maioria das princiapis lojas de surf perdeu clientes ou foi à falência. Na Surfer, as receitas de publicidade registraram uma quebra acentuada, a revista ficou mais peuqnea e a equipe editorial virou claramente à esquerda. Sob onovo regime radicalizado de Kampion, a Surfer tornou-se uma voz ativa da contracultura emergente, celebrando a paz, o amor livre, os tubos e o direito que todos os surfistas tinham de se colocar à margem e apanhar uma grande pedrada. Kampion, que criticava abertamente a maioria dos campeonatos de surf com artigos como “Carma negativo em Huntington Beach” e “A marte de todos os campeonatos”, procurou promover o surf como uma metáfora do equilíbrio cósmico em vez de se deixar seduzir pelos joguetes de marketing. Além disso, fazia campanha contra a escalada da Guerra do Vietnam, que arrancava os surfistas das praias a olhos vistos, e declarou guerra ao presidente Nixon, que se mudara para Trestles Beach em San Clement e mandava encerrar este excelente pico sempre que se instalava na “Casa Branca do Oeste”.


Grannis pertencia a uma outra geração e não se revia nesta nova atitude contestatória do surf. Em bom rigor, tudo aquilo lhe era indiferente. Este antigo combatente da Segunda Guerra Mundial, que tinha ajudado o seu bom amigo Hop Swart a organizar campeonatos para a recém-formada United States Surfing Ass., acreditava que a competição ajudava o surf a crescer como desporto e promovia a sua vertente com melhor aceitação social. Em 1968, Grannis publicou um editorial em defesa de campeonatos de surf de boa qualidade e justos, classificando os seus críticos de “fiteiros”, sem qualquer moral para se queixarem. “Nos últimos anos, não tem parado de crescer o número de artigos assinados por antigos surfistas, colunistas hawaiianos que nunca puseram os pés numa prancha, vendedores de calções ou editores frustrados armados ao pinga relho que tecem fortes críticas aos campeonatos”, escreveu Grannis. “O motivo pelo qual tanto criticam os campeonatos é porque eles próprios já não estão em condições de competir”.


Porém, no final dos anos sessenta, já ninguém ligava à maioria dos campeonatos e nem sequer os outrora famosos Surfer Poll Awards da revista Surfer atraíam as atenções. O mais parecido com um campeonato de surf de nível profissional era uma fantástica competição anticampeonato chamada “Expression Session”, em que os melhores surfistas exibiam as suas proezas sem juízes, pontos nem troféus. “Este foi o ano do desenvolvimento ou mesmo da invenção de muitas coisas: pranchas curtas, fundos em V, baby guns, quilhas flexíveis, curtas e concepção radial de pranchas em geral”, escreveu Kampion em 1968. “É raro o surfista que surfa com o mesmo estilo do ano passado”. Em jeito de resposta, Grannis escreveu um editorial no qual previa que o surf haveria de voltas às longboards e ao noseriding. Apesar da agenda política do mundo do surf, Grannis deixou de empunhar a sua máquina fotográfica para registrar em imagens os melhores surfias, tanto os que usavam pranchas compridas como os que usavam pranchas curtas.


O swell de 1969 tem sido encarado pelo mundo do surf como o final geofísico da década mais secessionista e turbulenta do surf. “Aquilo por que passamos em Dezembro de 1969”, recordou o lendário surfista dos anos sessenta Skip Frye muitos anos mais tarde, “... marcou de certa forma a transição do surf em longboards dos anos sessenta para uma época dominada por pranchas mais curtas. Foi como uma grande limpeza e, a partir dali, nada foi como antes”. Grannis considerava que o tamanho da prancha era uma questão meramente logística e conseguiu colmatar o fosso entre as duas gerações com a sua fotografia. “Eu fotografava surfistas e não pranchas”, diz Grannis, “Para mim, o modo de vida não mudou assim tanto.”

A última fotografia de surf de Leroy Grannis para a International Surfing foi publicada em 1971. No final dos anos setenta, reformou-se da Pacific Bell Telephone e mudou-se de Hermosa Beach para Carlsbad, na Califórnia, onde continuou a surfar e a fotografar. Durante mais de vinte anos, manteve as suas fotografias e negativos cuidadosamente organizadas em dossiês, que guardava em casa. Enquanto um pequeno círculo marginal de surfistas entusiastas transformava o seu modo de vida numa indústria global, uma década primordial da história do surf quase caiu no esquecimento.


Pioneiro do esporte e da respectiva fotografia, Grannis captou a histórai do surf num ponto decisivo da sua evolução e iconografia. Esta retrospectiva das fotografias de Grannis, que vai desde os grandes clássicos e fotografias inéditas encontradas no seu arquivo, convida os leitores a conhecerem um estilo de vida incialmente reservado a um punhado de praticantes e que se transformou numa indústria que movimenta quatro bilhões de dólares. Nos dias de hoje, marcados pela abundância de imagens captadas por fotógrafos de surf profissionais, a simplicidade elegante das fotografias de Grannis e o período que documentou abrem uma janela fundamental para o nascimento de uma cultura. “Eu era surfista e fotografava o que gostava de ver”, defende-se Grannis, com modéstia, “Suponho que se pode dizer que tive sorte."



Bibliografia: Leroy Grannis