12/10/2009

Leroy Grannis: Parte I


Que atire a primeira pedra quem nunca viu sequer alguma foto do não menos importante Leroy Grannis. Tenho o grande prazer em transcrever à vocês um dos vovôs sobreviventes do nosso glorioso esporte. Eis homem que devemos tanto aproveitar sua terceira idade ainda a todo vapor, quanto estudar suas fotos que marcaram muita nostalgia. São poucos surfistas que passaram de tanta transição cultural como este, somando a curiosidade dos meus queridos leitores, além deste ter passado por essas transições ele as registrou: das grandes redwood planks às pequenas e traiçoeiras shortboards. Venho à presença de vocês, transcrever do livro de fotos simplesmente chamado Leroy Grannis, a vida dele. Este livro é de difícil acesso brasileiro, pois em meados de 2007 estava eu dando uma volta em uma livraria da ilha mágica de Florianópolis quando eu avistei um livro muito grande de surf na prateleira mais alta da loja, a regra da livraria não poderia proibir os clientes em ter uma “palhinha” dos futuros produtos. Quando pedi para um funcionário me pegar aquele dito livro para eu dar uma folheada ele apenas me advertiu, “Bom senhor, este é o livro mais caro da loja, por favor, tenha cuidado”. Eu pensei logo em seguida, “Que droga, de tantos livros de autores famosos, artistas, geografia, romancistas que existiam naquela livraria, logo o livro o mais caro seria o único livro de surf?!”. Fez jus ao preço, R$ 1.400 reais juntamente com o seu autógrafo e 274 páginas. Folheei com tanta cautela que quem me via, me confundiam com um paleontólogo achando um fóssil no meio do deserto, não contive as lágrimas. Entre outros meios, consegui o dito cujo e saboreei-o como o tal paleontólogo, eis o que descobri:



“A revolução foi imortalizada a preto e branco, numa tarde de domingo, no especo de 1/250 de segundo, 2 de outubro de 1966. Campeonato mundial de surf, Ocean Beach, San Diego. Quarenta mil espectadores enchiam a praia e o recém-inaugurado pontão de Ocean Beach. No preciso momento em que Robert ‘Nat’ Young, com dezoito anos de idade, ergueu o troféu com a forma da Califórnia sobre a sua cabeça, havia mais de trezentos e quarenta mil soldados americanos em Vietnam, Brian Wilson estava prestes a lançar a sua obra-prima ‘Good Vibrations’ e o LSD continuaria a ser legal por mais três meses. As pranchas de surf tinham, em média, dez pés e meio (3,2 metros) e pesavam quatorze quilos. Nat Young era então o campeão do mundo. E o mundo do surf acabava de assistir a ima viragem silenciosa de 180º.


Young, um jovem australiano alto e impetuoso, tinha ao seu lado no pódio o amável hawaiiano Jock Sutherland e Corky Carrol, um gênio californiano das ondas pequenas. Um punhado repórteres da imprensa regional e nacional, entre os quais jornalistas da Newsweek e do The New Yourk Times, digladiavam-se para conseguir chegar perto dos vencedores. Leroy Grannis, o único fotógrafo com contrato da revista International Surfing, manteve-se à beira da multidão, contornando-a e tirando fotografias com a sua máquina fotográfica Pentax S, corroída pelo sal. Num momento fulcral da cerimônia, focou a sua objetiva sobre Nat Young que, em júbilo, exclamou: ‘Sinto-me nas nuvens!’.

Apesar das emoções ao rubro na praia, Grannis demonstrou uma contenção estóica. Para ele, este acontecimento era tão-só o culminar de um ano de fins-de-semana a fotografar campeonatos de clubes em várias praias da Califórnia do Sul. Grannis, que então contava quarenta e nove anos, era fotógrafo de surf há seis e praticava surf há três décadas e meia. No fim-de-semana seguinte, o mais provável era estar em Malibu ou Huntington Beach para outro pequeno campeonato regional e o processo de qualificação para o campeonato mundial de surf começaria de novo.
Leroy Grannis deu os primeiros passos como fotógrafo de surf no final de 1959, mas não pretendia fazer desta atividade uma profissão ou arte. Era apenas mais um homem de família de meia idade, que procurava um passatempo para reduzir o estresse de sua profissão. Por sorte, pegou na máquina fotográfica numa altura fulcral da história do surf. Nascido em Hermosa Beach, na Califórnia, em 1917, Grannis era um herdeiro da tradição do surf da Costa Oeste, com as suas pranchas de madeiras de sequóia, e testemunha de uma época em que uns escassos duzentos surfistas da Califónia deslizavam com enormes pranchas de onze pés (3.3 metros) nas ondas pouco cavadas de San Onofre e Palos Verdes Cove, com dignidade e cavalheirismo – realmente, cavalheirismo era a palavra exata para a dança surfística da época. Foram a primeira geração de surfistas do continente a aderir a este ancestral desporto, recém-exportado pelos hawaiianos George Freeth e Duke Kahanamoku, e também fizeram parte do renascimento do surf, que foi iniciado por um punhado de hawaiianos em Waikiki no final do século XIX.

Grannis cresceu a um quarteirão do mar, em Hermosa Beach, e começou a surfar aos quatorze anos com uma prancha de madeira emprestada, que pesava quase quarenta e cinco quilos. Foi nesta praia, onde deslizava nas ondinhas que rebentavam por baixo do pontão de Hermosa Beach, e John ‘Doc’ Ball. Um afável estudante de medicina dentária na Universidade do Sul da Califórnia, que era dez anos mais velho do que Grannis. Os três tornaram-se amigos para a vida.

Doc era um surfista experiente e não tardou à convencer os adolescentes Grannis e Swarts a enfrentarem as ondas mais encrespadas de Palos Verdes Cove, oito quilômetros mais ao sul. Esta praia era como uma segunda casa para um grupo zeloso de surfistas dedicados, na sua maioria jovens de vinte e poucos anos sem emprego, que estavam à espera de vencer a Grande Depressão em um grande estilo, mas com pouco dinheiro. Este grupo auto-dependente construía as suas próprias pranchas, fazia os seus próprios calções de surf e os poucos tostões que os jovens conseguiram reunir eram gastos em gasolina, (e, por vezes, numa garrafa de vinho barato) para viagens à Malibu ou San Onofre. Muitos deles eram também mergulhadores experientes e, não raras vezes, apanhavam autênticos banquetes de lagosta e bivalves nas piscinas formadas pela maré.




Em 1935, Doc fundou o Palos Verdes Surfing Club (P.V.S.C.), e no ano seguinte, convidou Swarts e Grannis (que entretanto recebera a alcunha de ‘Granny’) a juntarem-se ao grupo.

Esta famosa foto de Grannys que mostra Dewey Weber

em um momento imortalizado pelo momento

Comentários
1 Comentários

Um comentário:

Anônimo disse...

Pô, bom post, hein! Leroy Grannis é muito irado, e esse livro dele é de folhear usando luvas! Foto maravilhosas, com cores e contrastes muito ricos. Eu já consegui o meu, mas sem o autógrafo, o que reduz em, digamos, 90% o preço!!! Essas versões autografadas são mesmo bem caras, e peças raras. Também ficaria emocionado de topar com uma...